segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O País do Carnaval de Jorge Amado

Primeiro romance de Jorge Amado, O país do Carnaval faz um retrato crítico e investigativo da imagem festiva e contraditória do Brasil, a partir do olhar do personagem Paulo Rigger, um brasileiro que não se identifica com o país.
Filho de um rico produtor de cacau, Rigger volta ao Brasil depois de sete anos a estudar direito em Paris. Num retorno marcado pela inquietação existencial, ele une-se a um grupo de intelectuais de Salvador, com o qual passa a discutir questões sobre amor, política, religião e filosofia. Dúvidas sobre os rumos do país ocupam o grupo.  O protagonista mantém uma relação de estranhamento com o Brasil do Carnaval, acredita que a festa popular mantém o povo alienado. Os exageros e a informalidade brasileira são motivo de espanto, apesar da proximidade com o povo durante as festas nas ruas fazer com que ele se sinta verdadeiramente brasileiro. Aturdido pelas contradições, Rigger decide voltar para a Europa.
Mestiçagem e racismo, cultura popular e actuação política são alguns dos temas de Jorge Amado que aparecem aqui em estado embrionário. Brutalidade e celebração revelam-se, neste romance de juventude, linhas de força cruciais de uma literatura que se empenhou em caracterizar e decifrar o enigma brasileiro.
 
Nota: O país do Carnaval é o primeiro romance de Jorge Amado, escrito quando ele tinha apenas dezoito anos. O livro foi publicado pela editora Schmidt em 1931, no mesmo ano em que o autor ingressou na faculdade de direito no Rio de Janeiro. Antes de O país do Carnaval, Jorge Amado publicara os poemas de A luva e a novela Lenita, mas por opção do próprio escritor esses trabalhos não foram incluídos na relação das suas obras completas.

Excerto:

“Alcançou o navio no último momento. Poucos passageiros, ingleses e argentinos a admirar a cidade que se vestia de treva. A noite se apossara do Rio de Janeiro. Paulo Rigger, no tombadilho, comparava a cidade carnavalesca, envolta em trevas, à sua alma. De repente, fez-se luz na cidade, que apareceu brilhante, livre das trevas. O navio afastava-se vagarosamente…
Paulo Rigger, nervoso, lábios apertados, olhou. No Corcovado, Cristo, braços abertos, parecia abençoar a cidade pagã. Tornou-se maior a tristeza nos olhos de Paulo Rigger. Levantou os braços num gesto de supremo desespero e murmurou fitando a imagem gigantesca:
- Senhor, eu quero ser bom! Senhor, eu quero ser sereno…
Lá longe, desaparecia lentamente o País do Carnaval…”
 
Nota: Livro disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil

Leia, porque ler é um prazer!

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